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≡≡≡≡≡≡≡≡≡≡ 12.4.12

Crónica póstuma do retornado

Durante os primeiros meses, após o meu regresso à pátria, depois de alguns anos de vida no estrangeiro sem enviar divisas, eu deambulava frequentemente pelas ruas do Porto, só para ouvir homens e mulheres a falar português com a boca toda, e olhar os prédios, um por um, até colar as ruas à minha memória em desordem. Numa dessas rotas contemplativas, apercebi-me de um edifício recuperado, perto do Palácio da Bolsa, que eu não conhecia com aquela fachada tão limpa. Como a porta estava aberta e ninguém me impediu a ousadia, subi as escadas em câmara lenta, pois era assim que eu me movia nessa altura, enquanto reaprendia aos poucos a ser português (quatro sandes de panado depois, a reconversão total seria concluída). No primeiro piso, luminoso e de um admirável pé direito, para além das paredes quase nuas, havia uma pequena mesa e uma cadeira onde estava sentada uma rapariga bem bonita, quase adormecida naquele silêncio. À minha chegada, ela sobressaltou-se ligeiramente mas, logo em seguida, fez um movimento com a cabeça, anunciando, sem equívocos, que estaria mais do que pronta para as minhas perguntas. Eu só tinha uma (o que raio é isto?), apesar de ter feito outra. Com sotaque, a rapariga explicou-me que o edifício escondia um auditório e algumas salas equipadas para receber exposições. Na verdade - disse-me ela – nessa mesma semana decorria uma exposição que eu poderia visitar, caso fosse essa a minha vontade de cidadão visivelmente deslumbrado. Depois fez uma pausa e arrancou a seguinte pérola: “trata-se de belas artes.” Não sei se esta expressão tem o mesmo efeito em toda a gente mas eu acho-a irresistivelmente cómica. Logo na altura, não consegui reprimir um sorriso genuíno, embora ainda estivesse longe de perceber a utilidade daquelas palavrinhas. E, meus amigos, como elas são úteis! Agora, quando regresso de exposições, filmes ou concertos de que não gostei ou sobre os quais não me apetece falar, e me perguntam “que tal, Daniel?”, eu encolho os ombros e engatilho logo: “trata-se de belas artes”. Como se não bastasse, a abrangência da expressão é colossal, uma vez que ela também funciona às mil maravilhas para resumir alguns artigos de jornal e algumas doses de polvo à lagareiro em certos e limpíssimos restaurantes.

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