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≡≡≡≡≡≡≡≡≡≡ 30.12.10

Dois mil e dez (6)

Aprender a viver debaixo da cinza dos vulcões.

Dois mil e dez (5)

@daniel
© daniel

Dois mil e dez (4)

R.I.P. Paul the Octopus

At last, the chaotic darkness of football was banished by light of certainty from a phychic cephalopod. Even the Spanish didn't eat him when they won the World Cup. But then he died, aged two. He's arm in arm in arm in arm with Jesus now.


- The Word, Issue 95, January 2011.

Senhor Gonçalo

Com a possível excepção dos comentadores televisivos todo-o-terreno (pagos a peso de ouro) e do Toni picheleiro-erudito (uma pessoa que eu conheço), não penso que ninguém se deva inibir de falar de um tema que não domine por completo. Julgo que haverá poucas vantagens em manter a discussão - qualquer discussão - circunscrita a um pequeno grupo de sábios, fechando os portões de entrada a quem não seja especialista disto ou daquilo, até porque ninguém sabe muito bem onde acaba isto e começa aquilo, e é importante preservar desimpedidos os canais entre as diferentes áreas do saber, tal como hoje as identificamos (apesar de tudo, somos capazes de reconhecer algumas fronteiras implícitas entre ciência, arte e pastelaria, por exemplo). Um caso que me interessa em especial diz respeito à forma como conceitos científicos são trasladados para as ciências sociais e para a literatura. Pouco me incomoda que noções vagas e um tanto deformadas de «relatividade», «selecção natural», «princípio de incerteza» ou «teoria do caos» sejam polvilhadas em artigos de sociologia, antropologia ou filosofia e seus derivados, desde que a autoria desses artigos não pertença a indivíduos com uma vaidade de pavão e uma irritante apetência por torcer artificialmente os argumentos, ao mesmo tempo que revelam pouco respeito pela história desses conceitos. Esta minha postura serena decorre, acho eu, do facto de eu distinguir duas abordagens: uma que consiste na utilização de expressões pseudo-científicas como pretenso argumento de autoridade, emaranhando propositadamente o discurso, e outra que importa os conceitos sem disfarçar a inevitável estranheza que acompanha uma mudança mais ou menos violenta de cenário nem as dificuldades que daí advêm (imaginem aquelas semanas logo depois de uma mudança de casa, para outro país, e a pequena ansiedade que precede a afinação da rotina). A primeira dessas abordagens deve ser combatida com ferocidade e, caso seja necessário, com moderada humilhação pública. Ninguém se deve valer da linguagem pseudo-científica para atemorizar leitores. Já o segundo tipo de abordagem é, mesmo nos casos mais graves, quase inócuo e, a longo prazo, trará um considerável número de vantagens, acabando por enriquecer e alargar o âmbito da discussão. A falta de rigor, por incrível que pareça aos mais fundamentalistas, também pode estimular avanços importantes numa teoria, assim como é impossível alcançar certos avanços sem optar pelo rigor (queriam só regabofe, era?). Ainda sem absoluta certeza desta conclusão, julgo que Gonçalo M. Tavares está mais próximo daquilo que eu identifiquei como segundo tipo de abordagem do que do primeiro, incorporando as suas próprias dificuldades no processo de busca da natureza fundamental das coisas. Pelo que eu me apercebi, Gonçalo M. Tavares utiliza tudo o que vem à rede (e os conceitos científicos chegam à rede dele com alguma frequência) para tentar ver mais longe e não para confundir deliberadamente o leitor. Claro está que, não raras vezes, há nas suas declarações e livros uma ingenuidade surpreendente, e aqui e ali um esticar de corda que valha-me deus (basta espreitar a entrevista deste ano à revista Ler), mas, também a mim, me parece que o seu esforço - ao contrário de vários dos seus esquemas e ilações duvidosas - é honesto. No entanto, essa componente genuína sabe-me a pouco e uma pessoa anda nisto da literatura pela abundância.

Um exemplo ajuda sempre. Escreve Gonçalo M. Tavares no artigo para o Presseurop: «Le plus absurde est que la croyance en l’abstrait, ce retour à la pensée primitive qui a envahi le monde contemporain, (…)». Mas então acreditar na força e utilidade dos conceitos abstractos representa um regresso ao pensamento primitivo? Como assim? Quando Gonçalo M. Tavares pergunta: «O que é compreender o número pi? É saber que é 3,14 ou é saber mais 20 casas decimais ou mais cem casas decimais?» (Revista Ler, Dezembro 2010), apetece responder: nem uma coisa nem outra, só recorrendo à abstracção se poderá entender o seu significado. Isto não é ser primitivo, é ser sofisticado. E descanse Gonçalo M. Tavares, não faltam coisas que giram concretamente neste mundo à custa dessa «Eglise de l’Abstrait» (GMT, Presseurop).

≡≡≡≡≡≡≡≡≡≡ 22.12.10

You Tuba Mirum

A princípio, parece que nada se vai passar. Um senhor ultra-competente, proprietário de uma armação ocular muito em voga nos anos 60 e que, hoje em dia, apenas os curadores de exposições de arte contemporânea insistem em comprar, começa por estender um tapete de notas graves, com a preciosa colaboração do trombone de serviço. Tudo bastante calmo e soturno até que, de súbito, surge o tenor. E, meus deus, com que impetuosidade. A partir daí, a melodia vai subindo oitavas devagar, só descansando bem lá nas alturas, quando tomada pela cantora soprano. Assistir à passagem de testemunho dessa linha melódica, de uma voz para outra, como na repetição em câmara lenta de uma corrida de 400 metros estafeta, é uma maravilha e um deslumbramento que nos ajuda a repor a confiança nos homens, nas mulheres e no banco central europeu. Bom natal.

≡≡≡≡≡≡≡≡≡≡ 18.12.10

Moldura humana

Tenho alguma pena das pessoas que dizem: «do futebol só gosto do jogo, não me agrada nada do que está à volta», porque essas pessoas nunca poderão apreciar a descarada beleza destes recortes nem achar piada a esta foto de verão:

The Lady is a Tramp

Completamente de acordo quanto a essa versão no Glee (vamos fingir que eu sei o que é o Glee)e fico quase comovido por encontrar assim inteira a letra de Lorenz Hart, depois das boas e más mutilações que a pobre coitada sofreu à nossa frente, ao longo do tempo. Por outro lado, não consigo descobrir muito humor na interpretação da Ella Fitzgerald (uma pessoa que terá outras qualidades mas que sempre me pareceu demasiado compenetrada no seu trabalho para nos transmitir a imprescindível leveza que o humor - este tipo de humor - necessita). A minha versão preferida do «The Lady is a Tramp» é cantada, sem pressa, pelo Frank Sinatra, a meio do filme «Pal Joey». Como seria de esperar, a letra não mantém os verbos na 1ª pessoa, mas (atenção!) a 3ª pessoa está presente e chama-se Rita Hayworth, o que também não é nada mau.



Grandes momentos deste vídeo:
1:19 (um elegante coice no piano)
1:43 (articulação arrastada e ligeiramente british da expressão «the theatre»)
2:00 (rotação de cabeça de Frank)
2:15 (ombro e clavícula de Rita)

≡≡≡≡≡≡≡≡≡≡ 16.12.10

≡≡≡≡≡≡≡≡≡≡ 12.12.10

Este blogue não tem muitos temas

«In all Russian novels we seem to hear a voice saying: "The meaning of life? One day that will be revealed to us - probably on a Thursday." And the day, not the insistence of the plot or purpose, is the melodic bar.»

- V. S. Pritchett, num ensaio de 1946 sobre Turguénev.

Embrulha

Já aqui contei que, na manhã seguinte ao Porto 5 Benfica 0, por limitação do campo de escolhas e contra todas as forças da natureza que costumam governar os meus impulsos, adquiri um exemplar do jornal «A Bola». Apesar da experiência não ter sido famosa, guardei esse exemplar com grande carinho, numa gaveta do aparador, e agora, enquanto vocês (as cigarras) precisam de comprar folhas de papel verde-pinheiro ou vermelho-vale-e-azevinho, recorrendo às poucas papelarias de bairro que a crise não dizimou, a formiga Daniel pode estender as patinhas à lareira, ao mesmo tempo que executa o embrulho de certos e indeterminados presentes de Natal com páginas de um azul implícito e surpreendentemente adequado a esta quadra. Uma opção que, convém sublinhar, poderá ser entendida, pelas pessoas em geral e, sobretudo, pelas pessoas concretas, como uma infame e despropositada provocação mas que, no fundo, no fundo (o Natal convida a que abandonemos a superficialidade), ambiciona apenas a salvação do planeta através de um requintado plano de reciclagem da alegria. Apelo à compreensão de todos e ao calor dos vossos corações.

≡≡≡≡≡≡≡≡≡≡ 11.12.10

Dois mil e dez (3)

«Gostava que envelhecer bem fosse assim: chegar a um conhecimento preciso e concreto, mas em última instância incomunicável, de como se foi e se deixou, para sempre, de ser. Mas não, parece que também temos que ser pessoas realizadas

[fragmento do Paleozóico Câmbrico Superior da Blogocoisa]

Dois mil e dez (2)

2010 ficará na história doméstica de Portugal como o ano em que a frase «é preciso limpar a porcaria que existe na Federação» se converteu na segunda frase mais famosa do Prof. Carlos Queiroz.

Dois mil e dez (1)

Ao fim de três anos, o tapete branco do IKEA (também conhecido por: «o animal») já quase não deita pêlo no chão da sala.

≡≡≡≡≡≡≡≡≡≡ 8.12.10

Listo

Caras pessoas de 2010, aqui no séc. XIX, a nossa preferência para livro do ano recai sobre «Fumo», de Ivan Turguénev, editado pela Relógio d'Água, com uma capa clássica, algo convencional, mas boa (podem, portanto, lê-lo em cafés e jardins sem temer a chacota pública, embora eu desaprove esta opção tão portuguesa por editar livros em capa assim-assim, nem dura nem mole). E se alguma banda, este ano, merece receber um Pão de Ló de Ovar em casa, essa banda chama-se Grinderman, uma alcateia de músicos ferozes, com barbas e bigodes como nós, aqui no séc. XIX.

≡≡≡≡≡≡≡≡≡≡ 1.12.10

Como encher uma mochila?

Em Abril de 1890, Tchékhov inicia uma viagem de três meses pela Rússia e Ásia até à colónia penal da Ilha de Sacalina, na Sibéria, onde entrevistará centenas de condenados. A motivação central para a decisão de abandonar a sua casa e família, partindo para longe, bem para lá dos Urais, permanece algo incerta. Há quem ventile a hipótese de por trás dessa decisão estar uma tentativa para afastar o fantasma de um infeliz episódio amoroso com uma escritora russa e comprometida, mas esta parece ser uma história um pouco mal contada (é pena). Apesar da sua periclitante saúde, na altura, Tchékhov arranca sozinho para uma viagem libertadora. Tinha 30 anos. E o que leva ele?

He was equipped with a heavy leather coat and a short one, top boots, a bottle of cognac, a knife "useful for cutting sausages and killing tigers" and a revolver for protection against brigands. 

É de homem

Cidade

Hoje, ao princípio da noite, na rua de Cedofeita, vi uma mulher a cantar um fado ao ouvido de um homem. Às vezes, ela interrompia o fado e dizia: «era assim». Intervalos que o homem aproveitava para lhe lançar um sorriso malandro, revirar os olhos e responder: «pois era».